UMA AÇÃO DE CONTRACONDUTA NO CURRÍCULO PARA O ENFRENTAMENTO À DISTORÇÃO IDADE-SÉRIE EM TEMPOS DE NEOLIBERALISMO: O PROJETO TRAJETÓRIAS CRIATIVAS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/1809-3876.2019v17i4p1566-1586

Palavras-chave:

Currículo, Distorção idade-série, Contraconduta, Neoliberalismo, Projeto Trajetórias Criativas.

Resumo

O artigo objetiva analisar possíveis ações de contraconduta operacionalizadas no currículo escolar, frente ao contexto neoliberal que estamos vivenciando do Brasil. Para isso, discute-se brevemente as tendências neoliberais atuais do contexto brasileiro e analisa-se alguns movimentos de contraconduta desenvolvidos numa escola que adere ao Projeto Trajetórias Criativas. Tal Projeto pode ser caracterizado como uma invenção curricular para o enfrentamento à distorção idade-série e acolhe estudantes de 15-17 anos dos Anos Finais do Ensino Fundamental. Teoricamente o texto utiliza as discussões contemporâneas de Dardot e Laval acerca do que denominam a nova razão-mundo e do princípio político do comum. Opera-se ainda com o conceito de contraconduta dos estudos foucaultianos. A empiria abrange observações de atividades com estudantes e reuniões de planejamento com professores em uma das escolas, registradas em diário de campo. Como resultado da pesquisa destaca-se a força das propostas que emanam dos estudantes e inventam um currículo em movimento que fissura o currículo tradicional, incluindo outras possibilidades de produzir o aprender. O movimento do dobrar e redobrar as propostas pedagógicas engendra forças que agem sobre elas mesmas, para criar múltiplos caminhos, ações abertas, constituindo singularidades. Compreende-se que esse movimento fortalece o princípio político do comum e funciona como contraconduta dos professores porque se afastam do esperado, como a conduta do ensinar e aprender nesses tempos neoconservadores. Em síntese: ao recusar serem governados dessa forma colocam-se junto aos estudantes para inventar outros currículos que os tornem aprendentes e, nesse movimento, criam trajetórias próprias para aprender.

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Biografia do Autor

Clarice Salete Traversini, Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Doutora em Educação e professora associada da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Coordenadora do Grupo de Estudos Educação e Disciplinamento (GPED) e Pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Currículo, Cultura e Sociedade (NECCSO) da UFRGS/CNPq.

Kamila Lockmann, Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande - FURG

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora do Instituto de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e in/Exclusão - GEIX/CNPq

Ligia Beatriz Goulart, Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Doutora em Geografia, docente e pesquisadora no Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. Professora pesquisadora do Projeto Trajetórias Criativas -Colégio de Aplicação da UFRGS- Brasil.

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Publicado

2019-12-19

Edição

Seção

Dossiê ABdC 2019: "Confrontos e resistências nas políticas educacionais e curriculares no contexto atual"